Camila Paese Fedrigo apresentou seu projeto de pesquisa "Semiologia e Hemenêutica"
HERMENÊUTICA E SEMIOLOGIA
A
semiologia tem como tese central o estudo dos diferentes sistemas de signos, no
qual a linguagem, como categoria sígnica, tem relevo fundamental, eis que se
entende que a partir dela os sujeitos estruturam a realidade mediante a
utilização arbitrária os significantes linguísticos, o que difere de seu uso
como meio de descrever a realidade pelos seus significados.
Importante é salientar que uma das alavancas dessa teoria
se deve ao fato de sua utilização pragmática, pois se asseverou não somente uma
coerência logica entre os termos, a partir de sua análise sintático-semântica,
mas pelo seu uso pragmático, no sentido de que pela linguagem poder-se-ia
produzir-se novos sentidos adequados a determinados contextos históricos,
evidenciando-se assim, a relação funcional, ou seja, a manipulação do signo no
sentido de influir no comportamento das pessoas.
Os signos assinalam sempre uma designação psicológica, e
não, um conceito desvinculado de sentido, ou melhor, os signos possuem uma
ressonância da impressão psíquica que lhe adjudicamos.
Ademais, as características dos signos dizem respeito à
arbitrariedade, eis que o que é arbitrário é o significante e não o
significado, pois esse é fixo. Ainda, a arbitrariedade existe pela sua
desvinculação a qualquer pressuposto ontológico-metafísico, ou seja, é uma
convenção. Deve-se considerar que os signos linguísticos são dependentes do
processo histórico que os conformam, o que os torna imutáveis por um
determinado lapso de tempo, permitindo seu uso, embora, no decurso do tempo,
possibilita que se forneça a eles significantes diferentes de outrora.
Em síntese os signos carregam junto de si um paradoxo:
seus significantes precisam de uma certa permanência histórica que os configure
paradigmaticamente, para que, após sua maturação, venham a ser substituídos por
outros que consigam expressar mais eficazmente a vontade dos sujeitos.
Para nós, a viragem linguística saussureana está em
manifestar a natureza arbitrária dos signos, ao expor que eles não possuem
apenas significados, o que pressupõe uma característica mais conceitual do
mesmo, mas que eles manifestam inúmeras possibilidades significativas, o que
faz que se perceba a linguagem de maneiras diferentes, como uma categoria de
poder e de dominação, por exemplo.
O objetivo de Saussure é o de tornar a semiologia uma
unidade epistêmica independente, o que, de certa forma, é negativo, na medida
em que se impõe um processo positivista e formalista na sua configuração, a
parir da utilização de determinados métodos de análise e significações
específicas.
A semiologia proposta por Warat, em especifico, traz
consigo contribuições para a formação de uma nova retórica, ao se constituir em
uma teoria hermenêutica em que os discursos são expressões que possuem uma
carga ideológica bastante expressiva, À medida que as conclusões discursivas
são vinculadas a determinadas representações sociais. Acrescenta-se o fato de
que o autor propõe a análise e desfragmentação dos conteúdos ideológicos e das
falas institucionais.
Gadamer propõe uma nova dimensão à interpretação a parir
da quebra do pré-conceito de interpretação como fenômeno epistemológico, ou
seja, como um instrumento que possibilite ao homem conhecer a realidade. Tal
posicionamento justifica-se porque há uma crítica no atual processo de
interpretação, porquanto o homem o delineia como método de conhecimento
conceitual e objetivo, cuja experiência histórica é negligenciada, em prol de
sua adequação às técnicas do conhecimento feitas pela comunidade científica,
ou, em outras palavras, onde a ciência objetiva a experiência.
Gadamer propõe, em troca dessa forma de conhecimento, a
compreensão dos fenômenos a partir da dialética, do encontro do objeto com a
consciência, porque dessa união há uma enorme possibilidade de se reinventar o
objeto antes compreendido e tido como verdade, visto que quem interpreta o faz
a partir de si, ou seja, das experiências acumuladas, pois , segundo ele, em
cada ser humano, em cada indivíduo, reside sempre a intuição da totalidade.
Gadamer é o expoente da interpretação filosófica ao
procurar dar sentido ao texto utilizando aquilo que foi compreendido pelo
sujeito, pois entende-se que o sujeito também faz parte do processo
interpretativo, ocorrendo uma abertura e uma potencialidade significativas,
pois há a soma do conteúdo do texto e das contribuições do sujeito cognoscente.
A partir disso, percebe-se que Gadamer se preocupa
sobremaneira com a dialética, pois ela é a própria experiência, é o
envolvimento dos sujeitos com o mundo, prontos a acertos e desacertos a parir
da compreensão de seus signos linguísticos.
Heidegger, na sua vez, expressa que o homem é um ser-aí,
ou seja, um ser jogado no undo, juntamente com seus semelhantes, mas que não
perde a sua individualidade, mas é construído e modelado a parir das
vicissitudes que encontra e que contra elas luta, atribuindo-lhes diferentes
significados, bem como diante das vicissitudes assume diferentes posições.
O homem, portanto, não admite um conceito único, sequer
uma definição, por ser universal e nesse sentido, também vazio. O ser é
ser-no-mundo [e estar aberto às compreensões, sendo assim um poder-ser sem
nunca ser, pois jamais absorve a totalidade dos significados do mundo. A
definição que mais se aproxima da existência humana, é, pois o devir – uma transformação
que interage com a realidade.
Finalmente, a contribuição que o estudo da semiologia
traz pode ser direcionar, tanto para uma análise dogmática, cujo enfoque de
estudo parte do pressuposto que os signos linguísticos possuem conceitos
pré-determinados, em que o significado está intimamente atrelado a um conceito,
o que pode demonstrar uma condição de comodidade metodológica, quanto
impossibilita a averiguação das contradições que estão presentes, tanto nas
falas institucionalizadas representadas pelos signos linguísticos, como naquilo
que não é dito, ou seja, nas lacunas e silêncios.
Tanto Heidegger como Gadamer buscam destituir a
semiologia de um locus de saber conservador e institucionalizado. Para tanto, o
entendimento de que o homem é um ser histórico, que está-no-mundo para
enfrentar as vicissitudes a partir de sua inserção na realidade é de
fundamental importância, pois somente o embate com a realidade negada pela
interpretação metodológica é que possibilita ao sujeito o seu pleno
conhecimento.
A hermenêutica, para esses autores, não está para a
ciência; ao contrário, solicita que as decisões sejam tomadas em respeito ao
homem real, que vive circunscrito a determinados modos de produção e tem por
pressuposto a satisfação de necessidades que não são aquelas do homem padrão,
delineado formalmente para satisfazer os pressupostos da verdade científica.
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