Devemos nos sentir orgulhosos.
Evoluímos a tal ponto que desenvolvemos geringonças capazes de nos
proporcionar confortos antes inimagináveis.
Carros que não suprem somente a necessidade de transporte, mas de
status - frisa-se o status, porque muitas vezes um automóvel com um
preço altíssimo proporciona o mesmo conforto de alguns mais
acessíveis -, celulares capazes de fritarem ovos e televisores que
reproduzem a realidade melhor do que ela mesma.
O problema é que, mesmo nos
consumidores assíduos, possuidores da mais alta tecnologia humana
desenvolvida, o sentimento de vazio é cada vez maior,
desproporcional a quantidade de produtos adquiridos. Os corpos
bonitos não refletem mais do que uma alma vazia, buscando um
sentido.
Isso se deve ao fato de que nós,
reles mortais, para adquirirmos todas inovações tecnológicas
materiais que nos são oferecidas, despendemos tempo e forças
inimagináveis, transformando nossas vidas em uma corrida onde não
existe chegada, não existe prêmio, pois o caminho está errado, ele
não leva além da linha da decepção e da frustração.
Claro que os magnatas, com suas
nádegas sentadas em estofamentos produzidos por trabalhadores
malasianos, são felizes. Eles possuem dinheiro suficiente para
desfrutar aquilo que é o grande segredo da felicidade, o tempo para
viver a vida. E, pode-se dizer mais, o tempo para viver a vida livre
das preocupações materiais, uma vez que podem comprar o universo.
Adquirimos os produtos que eles
consomem, queremos ser iguais, mas não temos o essencial, que é o
tempo para desfrutar da criação divina, admirar as belezas terrenas
sem noção de hora para ser feliz. Ao contrário, esse hábito nos
leva a preencher o tempo pensando como pagar as prestações vencidas
e vincendas, torcendo para que não lancem um produto mais moderno
antes do final do mês.
A mídia, a propaganda e publicidade
- grandes aliadas do carrasco consumista - eis que obtêm seu
sustento quando o promovem, tornam-se peça chave nesse círculo
vicioso em que caímos. Comparam as pessoas e zombam daquelas que
possuem o mínimo, idealizando o ter como status.
Se você puder ser um milionário,
ótimo, do contrário, busque outra utilidade para sua vida.
Qual a eficiência do consumo? Não
se ganha um Nobel por possuir diversos equipamentos eletrônicos.
Isso é a arte da vida sendo substituída pelo comportamento infantil
da disputa: “- A porta da minha casa é maior que a sua”.
Parabéns pela sua nova aquisição, você ganhou 36 parcelas para
pagar, agora terá que ter breves intervalos para o almoço,
sujeitando-se a trabalhos entediantes enquanto sua aquisição
envelhece junto contigo.
Devemos voltar nossos esforços para
a produção artística, buscando engrandecer a natureza humana,
desenvolvendo atividades que realmente alimentam o espírito.
Todos queremos ser milionários, mas
poucos conseguem. Isso não significa que o restante tem que viver
sua vida miseravelmente. Precisamos ter em mente que é mais
importante que todos tenham condições de viver dignamente, não que
todos vivam no luxo. Você não vai ser um fracassado se não tiver
um Iphone 5, mas sim se morrer sem ter dado sequer uma contribuição
intelectual ou artística, algo que possa contribuir para a
tranquilidade da alma humana, para nossos irmãos que choram pelo
mundo, nossos filhos que carecem de atenção. Se você não der essa
contribuição, você vai ser um fracassado.
A produção artística e
intelectual, inclusive com foco no meio ambiente, além dos esportes,
deve ser mais estimulada. O paradigma do consumismo precisa ser
quebrado a qualquer custo, antes de nos tornarmos simples consumidores objeto. Uns mais desatualizados que os outros, com medo
de perder a utilidade nessa embriagante e vazia sociedade de consumo.
Cassiano Scandolara Rodrigues