18 de out. de 2012

Espelhos.


Eduardo Galeano.

Premidos e calcificados pela azáfama dos dias, sufocados pelos afazeres cotidianos, esquecemos que o sol nasce e se põe a cada dia vindouro, distanciando-se pouco a pouco da terna e doce sensação das crianças, da qual todos nós experimentamos. Os espelhos nos indicam como gostaríamos de viver e não vivemos.

Eduardo Galeano é uma dessas pessoas singulares que consegue reunir a bravura dos homens altivos, corajosos e despojados das influências das convenções sociais, com o afeto puro e despretencioso das crianças. Escritor e jornalista uruguaio, suas obras foram traduzidas para diversas línguas e influenciaram muitas gerações de escritores.

Suas obras são integrantes obrigatórias da floresta literária de qualquer admirador da boa escrita, da paixão e da fantasia que os livros trazem consigo. “As veias abertas da América Latina” traz a história do vilipêndio mordaz de uma geração massacrada pela supressão diária de direitos, pelas atrocidades covardes dos porões e pela indignidade dos militares que tomaram boa parte da América durante longos e intermináveis anos.

 Nos revela a história viva, ainda presente nas cicatrizes indeléveis das vítimas de um tempo passado que todos querem esquecer. Mas como não podemos arrancar as páginas, Galeano nos permite manter viva a capacidade de indignação com as ameaças de violação da democracia e da liberdade.

Ele nos traz, de fato, o espelho de uma época. Mas muito mais que isso, revela nossos espelhos, questionando-nos acerca de como vivemos, como deveríamos viver e como o tempo nos ensina, nos tirando e nos ofertando, nos mostrando e nos cobrando, nos premiando e nos punindo, nos alcançando e nos deixando.

Num momento onde o ter sobrepõe-se ao ser, Galeano nos deixa um alerta: “As cidades não existem. Existem as pessoas que nelas respiram e que por elas caminham. Não me apego a edifícios. As pessoas, essas me fazem falta”. Quais são nossos espelhos? Como vivemos? Como os outros querem que a gente viva? Como queremos viver? Como vamos viver.

Jeferson Dytz Marin

Um comentário:

  1. Galeano é brilhante. Só o cuidado com o Mito do Bom Selvagem, do ser humano divino, o "escolhido" dentre os demais seres vivos, como propôs falaciosamente a Grande Cadeia dos Seres de Aristóteles, lá no séc. 300 a.C. O problema continua sendo as pessoas e não os sistemas.

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