Eduardo Galeano. |
Premidos e calcificados pela azáfama dos dias,
sufocados pelos afazeres cotidianos, esquecemos que o sol nasce e se põe a cada
dia vindouro, distanciando-se pouco a pouco da terna e doce sensação das
crianças, da qual todos nós experimentamos. Os espelhos nos indicam como
gostaríamos de viver e não vivemos.
Eduardo Galeano é uma dessas pessoas singulares
que consegue reunir a bravura dos homens altivos, corajosos e despojados das
influências das convenções sociais, com o afeto puro e despretencioso das
crianças. Escritor e jornalista uruguaio, suas obras foram traduzidas para
diversas línguas e influenciaram muitas gerações de escritores.
Suas obras são integrantes obrigatórias da
floresta literária de qualquer admirador da boa escrita, da paixão e da
fantasia que os livros trazem consigo. “As veias abertas da América Latina” traz
a história do vilipêndio mordaz de uma geração massacrada pela supressão diária
de direitos, pelas atrocidades covardes dos porões e pela indignidade dos
militares que tomaram boa parte da América durante longos e intermináveis anos.
Nos revela
a história viva, ainda presente nas cicatrizes indeléveis das vítimas de um
tempo passado que todos querem esquecer. Mas como não podemos arrancar as
páginas, Galeano nos permite manter viva a capacidade de indignação com as
ameaças de violação da democracia e da liberdade.
Ele nos traz, de fato, o espelho de uma época. Mas
muito mais que isso, revela nossos espelhos, questionando-nos acerca de como
vivemos, como deveríamos viver e como o tempo nos ensina, nos tirando e nos
ofertando, nos mostrando e nos cobrando, nos premiando e nos punindo, nos
alcançando e nos deixando.
Num momento onde o ter sobrepõe-se ao ser, Galeano
nos deixa um alerta: “As cidades não existem. Existem as pessoas que nelas
respiram e que por elas caminham. Não me apego a edifícios. As pessoas, essas
me fazem falta”. Quais são nossos espelhos? Como vivemos? Como os outros querem
que a gente viva? Como queremos viver? Como vamos viver.
Jeferson Dytz Marin
Galeano é brilhante. Só o cuidado com o Mito do Bom Selvagem, do ser humano divino, o "escolhido" dentre os demais seres vivos, como propôs falaciosamente a Grande Cadeia dos Seres de Aristóteles, lá no séc. 300 a.C. O problema continua sendo as pessoas e não os sistemas.
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