10 de out. de 2012

Nepos, de Fisiologis.

Dinheiro Público - Para Onde vai?


     Certa feita, em terrae brasilis, no Império de Fisiologis, ou Província, ou Reino, como queira, até porque Império também denota uma comuna italiana, localizada na província de Benevento... Enfim, nesse lugar, o Imperador Nepos, após suplantrar avassaladoramente a dinastia que o antecedia, sentada ao trono por séculos e arrimada numa plutocracia que abrigava sob um mesmo teto tiranos, pseudo-benfeitores, sofistas e burocratas, prometia inumar as agruras vividas pelos súditos e trazer a bonança e a probidade, fazendo com que a felicidade deitasse definitivamente suas raízes sobre Fisiologis.

   A esperança arrebatou cada um dos habitantes de Fisiologis, que acalentaram o sonho por dias melhores, a salvo do despotismo do governo que reinava até então. O povo, oprimido, mas já habituado aos desmandos e à inércia do Império derrotado, acomodou-se e apresentou a paciência necessária ao cultivo dos dias de bonança, que suscederiam o longo período de trevas que havia devastadado vales, semeado tristezas e gestado milhares de esquecidos, pobres descamizados que, recolhidos a cavernas, negavam-se sequer a presenciar a luz do dia.

   O tempo passou, passou, passou e a esperança foi cambaleando. Algumas vozes bradavam! Mas eram os murmúrios daqueles que haviam sido protegidos pela dinastia despótica ou então novos-iguais, que pretendiam implantar um novo totalitarismo centenário, que inauguraria um período de mais desesperança e desamparo.

     Surgiram afagos, promessas e a intenção de resgatar a dignidade dos cidadãos que furtivamente ainda habitavam os recôndidos cantos e alimentavam-se das réstias. Apesar da retórica, o reino continuava repleto de donzelas que, na doce idade, viam vilipendiada sua alma, suas esperanças, seu espírito. Os suores, suspiros e o mar de lodo ainda impregnava o ar carregado das alcovas que abrigavam o fim tenro da inocência.

     O Clero, que havia sido alijado do poder e já não dispunha da influência de outrora, nem sequer do domínio da cultura, haja vista que Aristóteles, Platão, Descartes e Rousseau circulavam livremente nos bancos acadêmicos e nos saraus, voltou à tona. Por sinal, diga-se, en passant, que a cultura havia sido democratizada e o povo, antes jogado à sorte da ignorância, agora já tinha acesso à boa literatura, teatro e outras formas que abrigavam a manifestação da arte, claro, desde que não representasse o questionamento ao Império.

    Mas voltando ao Clero, como dito, houve o momento em que deixou o exílio, o ostracismo e retomou seu caráter de protagonista. Coincidência ou não, foi exatamente aqui que o Império lançou um imenso programa de expansão das cidades, desenvolvendo projetos modernos de termas públicas, vastas bibliotecas, o anfiteatro Flaviano, que mais tarde seria conhecido como Coliseu, fontes e principalmente mansões, nas quais preponderava o estilo romano e gótico. Também não faltavam arabescos ilustrativos, que deram uma nova face à principal área do Império, muito visitada por estrangeiros. Com grandes pedras e bermas delineadas, as construções eram vistosas e davam a impressão absoluta de prosperidade.

   O progresso era notório e o Império refletia pujança e beleza, enchendo os olhos não apenas das províncias lindeiras, mas também além mar. Ocorre que Térbius, sob forte influência do Clero, resolveu cobrar taxas elevadíssimas para a concretização das grandes obras e a expansão da arte arquitetônica que se via aos quatro ventos. Desde então, com a aquiescência de Nepos, os atos de corrompimento não cessaram mais e definitivamente, igualaram o Imperador ao nefasto período que a grande cruzada havia derrotado. Os pensadores já não circulavam mais no Palácio. Em especial Jafet, aprendiz da maiêutica, que, frustrado, abandonara todos os sonhos de liberdade e igualdade cultivados.

    Por fim, fato era que Fisiologis continuava a mesma. Contudo, o que ninguém sabia era que Soalhus, um magnânimo paladino da justiça, dotado de inteligência singular, ainda estava disposto a pôr fim às agruras do povo e ao despotismo que reinava. Enquanto isso, Solicitorsis dava seguimento a seu bradar efusivo, tendente a destronar Nepos e implantar um novo, mas idêntico reinado de desmandos.

                                                                                Jeferson Dytz Marin

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