A Tal Literatura Fanqueira. |
Fim de semana frio na serra. Inverno adoçado.
Outono abreviado. Ambiente propício aos cabernets, aos merlots, à lareira,
família, sopa de agnolini, batata-doce, pinhão e cobertor de orelha.
É... Embora o verão carregue consigo o afã tropical do clima de pouca roupa, alma leve e
face de desopilo, o inverno tem lá seus predicados! E a serra é a cara da estação
do frio, da neblina, que incita a aproximação e a busca das companhias imanentes. De fato, a semana que
ultimou trouxe consigo o séquito dos amigos, o mate compartilhado, o fogo como
signo da união, da partilha, da vida vivida.
Mas falando em autenticidade, em alteridade, esses
são atributos que andam ausentes em boa parte da literatura...
MOEDEIROS FALSOS: A MERCANTILIZAÇÃO DA CULTURA
Machado de Assis, já em 1859, cuidava do tema,
censurando de forma veemente os escritores oportunistas, que “fazem do talendo uma machina, e uma machina
de obra grossa, movida pelas probabilidades financeiras do resultado, perdendo
a dignidade do talento e o pudor da consciência”.
A Academia Brasileira de Letras que o diga, vez
que incluiu dentre seus “imortais” José Sarney e Paulo Coelho, enquanto deixou
de fora verdadeiros literatos, como o íncone do mercado público, o anjo poeta,
o mais ilustre morador do Hotel Magestic, Mário Quintana.
De fato, as obras de auto-ajuda, que prometem a
felicidade instantânea, que têm o compromisso espúrio de inumar num piscar de
olhos as angústias psicanalíticas, as celeumas pessoais e, de quebra, os
problemas do espírito, abarrotam as livrarias e aguçam a sede das cobaias vivas
do cotidiano.
A história, a cultura genuína e a verdadeira
literatura perdem cada vez mais espaço para os fanqueiros literários, para os
escritores mercadológicos, que são fruto do consumismo desenfreado e de um
mercado burro voltado cada vez mais para o conhecimento instantâneo, midiático,
desprovido de qualidade e prazer.
Como bem descreveu Machado de Assis, “o fanqueiro literário é uma individualidade
social e marca uma das aberrações dos tempos modernos. Esse moer contínuo do
espírito, que faz da inteligência uma fábrica de Manchester, repugna a natureza
da própria intelectualidade”.
A CULTURA MANUELESCA DO DIREITO: TAMBÉM TEMOS NOSSOS FANQUEIROS
O direito não foge à regra machadiana. Também tem
seus escritores que se limitam a repetir o passado, a reproduzir realidades
vetustas e insistir em verdades absolutas que há muito foram relativizadas. O
positivismo, que identifica o direito com a lei e percebe nela a solução para
todos os males sociais, reflete-se em muitos manuais de Direito Civil,
Processual ou Penal... Um livro que se limita a pouco mais do que reproduzir a
lei não é uma obra literária, mas sim um instrumento tacanho a serviço do nada.
Enfim, sem a reflexão do direito, através de uma
postura questionadora, não teremos juristas preocupados com a mudança da
realidade social e a dinâmica das relações humanas, mas sim seres dotados de
uma conduta robótica, que despersonaliza as ações, refém da burrocracia e da tecnificação que olvidam
a existência do homem como ser pensante.
“Conhece-se
um fanqueiro literário entre muitas cabeças pela extrema cortezia. É um tic.
Não há homem de cabeça mais mobil e espinha dorsal mais flexível”. Mas também temos a boa literatura.... e a
boa música... Há vida após o fank...“Se
eu ousar catar, na superfície de qualquer manhã, as palavras de um livro sem
final. Valeu a pena. Sou pescador de ilusões”. Foi assim que terminou o fim
de semana. Ao som de Rappa...
Jeferson Dytz Marin
Nenhum comentário:
Postar um comentário