20 de set. de 2012

Fanqueiros da Literatura.

A Tal Literatura Fanqueira.

Fim de semana frio na serra. Inverno adoçado. Outono abreviado. Ambiente propício aos cabernets, aos merlots, à lareira, família, sopa de agnolini, batata-doce, pinhão e cobertor de orelha.

É... Embora o verão carregue consigo o afã  tropical do clima de pouca roupa, alma leve e face de desopilo, o inverno tem lá seus predicados! E a serra é a cara da estação do frio, da neblina, que incita a aproximação e a busca das  companhias imanentes. De fato, a semana que ultimou trouxe consigo o séquito dos amigos, o mate compartilhado, o fogo como signo da união, da partilha, da vida vivida.

Mas falando em autenticidade, em alteridade, esses são atributos que andam ausentes em boa parte da literatura...

MOEDEIROS FALSOS: A MERCANTILIZAÇÃO DA CULTURA

Machado de Assis, já em 1859, cuidava do tema, censurando de forma veemente os escritores oportunistas, que “fazem do talendo uma machina, e uma machina de obra grossa, movida pelas probabilidades financeiras do resultado, perdendo a dignidade do talento e o pudor da consciência”.

A Academia Brasileira de Letras que o diga, vez que incluiu dentre seus “imortais” José Sarney e Paulo Coelho, enquanto deixou de fora verdadeiros literatos, como o íncone do mercado público, o anjo poeta, o mais ilustre morador do Hotel Magestic, Mário Quintana.

De fato, as obras de auto-ajuda, que prometem a felicidade instantânea, que têm o compromisso espúrio de inumar num piscar de olhos as angústias psicanalíticas, as celeumas pessoais e, de quebra, os problemas do espírito, abarrotam as livrarias e aguçam a sede das cobaias vivas do cotidiano.

A história, a cultura genuína e a verdadeira literatura perdem cada vez mais espaço para os fanqueiros literários, para os escritores mercadológicos, que são fruto do consumismo desenfreado e de um mercado burro voltado cada vez mais para o conhecimento instantâneo, midiático, desprovido de qualidade e prazer.

Como bem descreveu Machado de Assis, “o fanqueiro literário é uma individualidade social e marca uma das aberrações dos tempos modernos. Esse moer contínuo do espírito, que faz da inteligência uma fábrica de Manchester, repugna a natureza da própria intelectualidade”.

A CULTURA MANUELESCA DO DIREITO: TAMBÉM TEMOS NOSSOS FANQUEIROS

O direito não foge à regra machadiana. Também tem seus escritores que se limitam a repetir o passado, a reproduzir realidades vetustas e insistir em verdades absolutas que há muito foram relativizadas. O positivismo, que identifica o direito com a lei e percebe nela a solução para todos os males sociais, reflete-se em muitos manuais de Direito Civil, Processual ou Penal... Um livro que se limita a pouco mais do que reproduzir a lei não é uma obra literária, mas sim um instrumento tacanho a serviço do nada.

Enfim, sem a reflexão do direito, através de uma postura questionadora, não teremos juristas preocupados com a mudança da realidade social e a dinâmica das relações humanas, mas sim seres dotados de uma conduta robótica, que despersonaliza as ações, refém da burrocracia e da tecnificação que olvidam a existência do homem como ser pensante.

“Conhece-se um fanqueiro literário entre muitas cabeças pela extrema cortezia. É um tic. Não há homem de cabeça mais mobil e espinha dorsal mais flexível”. Mas também temos a boa literatura.... e a boa música... Há vida após o fank...“Se eu ousar catar, na superfície de qualquer manhã, as palavras de um livro sem final. Valeu a pena. Sou pescador de ilusões”. Foi assim que terminou o fim de semana. Ao som de Rappa...


Jeferson Dytz Marin

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