Na “Política”,
Aristóteles afirma ser a
capacidade de discernir entre o bem e o mal, o justo e o injusto que distingue
o homem dos outros animais. E parece que o filósofo barbudo tinha mesmo razão.
A questão é saber, primeiro, qual o conceito de bom e justo de cada um. E olha
que para o bom e velho Ari, para os íntimos, o conceito de bom e belo estava
firmado na virtude. Segundo, se, uma vez detentor da capacidade de distinção do certo e do errado, a opção será pelo
primeiro caminho.
A proximidade dos pleitos municipais gera
reflexões dessa ordem. A busca por uma pessoa que, dotada de inteligência,
tenha também a capacidade de compreender o justo e a probidade para aplicá-lo
incondicionalmente. De fato, enfrenta-se uma época de vacas magras. Embora o
bordão “Que país é esse?” imortalizado por outro barbudo, o Russo, não ande
muito em voga, boa parte da ninhada de políticos recém parida parece ter
provindo de uma fêmea espúria, que lhes transmitiu a falta de escrúpulos e a ganância
como heranças inalienáveis. No campo religioso, cultivou ainda uma importante
lição: “o culto ao Deus-Poder acima de todas as coisas e o dever de adulá-lo
diuturnamente como condição de garantia da vida eterna”.
De qualquer forma, apesar da frustração, que
colocou todos brasileiros numa mesma estrada, buscando um mártir que
literalmente “salve” o povo e lhes garanta um lugar cativo no paraíso, ainda é
preciso votar. E o voto, ápice da democracia representativa, denota uma
possibilidade concreta de mudança do olhar que cada um debruça sobre a cidade.
Sim, a cidade é seguramente o principal campo de debates da eleição
municipal.... mas claro, como quem vive nas cidades são pessoas, lógico que a questão
central acaba descambando exatamente para a vida dos diletos habitantes da
pólis. E apesar do mar de lodo que habita as entranhas da política brasileira,
não tenho nenhuma dúvida que ainda é possível encontrar bons políticos. Novamente
voltamos aos conceitos. ... Quem é o bom político? Honestidade é imprescindível...
mas não adianta ser probo e incompetente, pois o dinheiro público continuará
indo para o ralo. Sabedoria. Capacidade de articulação e mobilização. Formacão política.
Conhecimento de gestão “pública”... Mas a palavra que define um bom mandatário
é, seguramente, “projeto”. As administrações identificam-se e eternizam-se com
a implementacão de projetos que mudem a vida das pessoas. Foi assim com a
educação em turno integral de Brizola, o transporte coletivo de Jaime Lerner,
as ciclovias de Peñalosa em Bogotá, o sistema de locação de bicicletas de
Paris, a participação da população nas decisões em Porto Alegre, o metrô de
Londres, os banheiros limpos e seguros do Rio de Janeiro...
Mas não é isso que elege ninguém. O que
geralmente coloca o candidato na cadeira de Prefeito é o carisma. E aqui mora o
problema. Se ele só tiver carisma e nenhuma das outras qualidades.... é o
prenúncio de um mandato que, certamente, trará muito mais tristezas que
alegrias.
De qualquer sorte, o voto é o exercício
democrático que nos é colocado à disposição, especialmente em face do notório
desinteresse nos instrumentos de democracia direta, muito mais fortes na Ágora
da Grécia Antiga do que nas assembléias públicas que apreciam mudanças do Plano
Diretor ou nos conselhos municipais. Deixo a Berthold Brecht a explicação da
importância do ato e da necessidade de rompimento com a desolação com a
política que aflige boa parte dos habitantes do planeta. “O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não
sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel,
do sapato, do remédio dependem de decisões políticas. (...) Não sabe o imbecil
que de sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior
dos bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio”.
Jeferson
Dytz Marin
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