A violação que sofre o art. 6º, inciso IV, da Constituição
Federal de 1988, denota um caráter humorístico a essa previsão
legal, tão bem intencionada em prever que o salário mínimo atenda
despesas básicas no âmbito familiar, como moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social. A vontade sempre foi rir, mas hoje
acentuadamente.
Dos estabelecimentos que frequento, somente na última semana,
reparei um aumento de R$1,50 na cerveja que alivia minhas
preocupações, R$2,00 na pizza que mata minha fome e nenhum no
cafézinho que me mantêm disposto, isso porque ele já custa R$3,00.
Senhores! água e pó de café.
São exemplos chulos, mas retratam uma realidade. Somente na cerveja
é o terceiro aumento que lembro este ano. A explicação deveria vir
da inflação, do repasse dos preços, mas muitas vezes está mais
próxima, no dono do estabelecimento.
Restou confessado pelo proprietário do local que o motivo do preço
da cerveja ter subido foi a chegada do verão, onde o consumo aumenta
significativamente, os preços dos fornecedores não tiveram qualquer
reajuste. Assim funcionam as coisas em relação a diversos outros itens.
Comerciantes visam o lucro fácil e resolvem aproveitar-se da onda de
consumo, elevando demasiadamente e desnecessariamente os preços.
Em nossa cidade, Bento Gonçalves-RS, está comum a implementação
de diversos estabelecimentos de grife, por assim dizer, locais com
uma arquitetura extremamente moderna e cara, que agrega um valor
significativo ao preço do produto consumido junto a eles. Também em
nossa cidade estão em evidência os altos valores cobrados a título
de aluguéis, no setor imobiliário, os quais são irremediavelmente
transferidos para o bolso do consumidor, pois, conforme reza a sabedoria popular, o comerciante nunca absorve o prejuízo, sempre
repassa.
Tudo bem. Tais locais devem, por coerência, ser frequentados por
pessoas dispostas a pagar algo a mais pelo ambiente oferecido, seja
em razão da arquitetura, da área em que se encontram ou qualquer
outro atrativo. Mas e quanto aos estabelecimentos que são destinados
a pessoas que não possuem condições financeiras de frequentar tais
lugares? Esses tem se achado no direito de cobrar tanto quanto,
elevando a esmo seus preços, em cadeia. Quando se vislumbra um preço
abusivo, logo ele é repetido pelo município, tornando-se, pasmem,
habitual. O valor cobrado anteriormente logo será esquecido.
Tais atitudes provocam uma cadeia de preços, como uma cobra tentando
morder o rabo, engolindo a si mesmo, na medida em que algoz e
executado se confundem na mesma pessoa, pois aquele senhor que pagou
R$3,00 o cafézinho é proprietário de uma loja de escapamentos
automotivos e vai passar a cobrar R$10,00 a mais em cada escapamento
vendido, o qual será vendido para um marceneiro que utiliza o carro
para ir na casa do cliente e, sem hesitar, irá subir o preço do
móvel a ser construído. A vítima é sempre o trabalhador
assalariado.
Então é claro que existe a inflação, mas também existe o preço
cobrado por prazer, pela luxúria do lucro desmedido, a oportunidade
fácil. Andando neste conflito de ofertas o cidadão se pergunta:
Estou rico? A resposta deveria ser sim, mas infelizmente é um
gigantesco não. Vocês não está rico, nem os estabelecimentos que
frequenta lhe oferecem serviços VIP. Você vai, paga mais e pronto,
vai embora. O comerciante reclama que ninguém o ajuda, mas e o
cidadão? Quem ajuda?
A realidade é está, estamos cada vez mais pobres, endividados e
nosso dinheiro vale cada vez menos. O ano de 2013 foi repleto de
reajustes em todos os setores, não acompanhados pela compensação
salarial, o que, somado com a oferta demasiada de crédito, provoca
um colapso no consumidor, tanto que está sendo incentivado,
midiaticamente, o uso do décimo terceiro exclusivamente para saldar
dívidas.
Então não, não estou rico, nem os comerciantes estão, nem
provavelmente você está. Este problema cultural e econômico apenas
desgasta nossa paciência e nossa saúde, pois exige um esforço
homérico em horas e trabalhos extras, os quais são devorados por um
monstro chamado lucro que habita no imaginário da população
brasileira.
Cassiano Scandolara Rodrigues